SOCD, o que é a nova tecnologia em teclados gamers que está causando polêmica nos eSports?

Razer Snap Tap

Uma controvérsia está agitando o mundo dos eSports: teclados gamers equipados com uma função chamada SOCD (Simultaneous Opposite Cardinal Direction) estão sendo acusados de oferecer uma vantagem injusta em jogos competitivos como Counter-Strike 2, Valorant e Overwatch 2. Essa tecnologia, também conhecida como “Snap Tap” pela Razer, está no centro de um debate acalorado sobre o que constitui trapaça no cenário competitivo.

O SOCD, em essência, permite que o teclado interprete duas teclas pressionadas simultaneamente, dando prioridade à última tecla pressionada. Isso tem implicações significativas em jogos de tiro, especialmente no CS2, onde uma técnica chamada counter-strafing é crucial para o jogo competitivo de alto nível.

No counter-strafing, jogadores alternam rapidamente entre teclas de movimento opostas para parar instantaneamente e atirar com precisão. É uma habilidade difícil de dominar, exigindo centenas de horas de prática. Com o SOCD, essa técnica se torna muito mais fácil de executar, potencialmente nivelando o campo de jogo entre novatos e veteranos.

Simon Whyte, engenheiro de software líder na Wooting, uma empresa que implementa SOCD em seus teclados, admite: “Fazer dessa maneira torna o counter-strafing muito fácil. E é por isso que é ruim.” A Wooting, apesar de oferecer a função, não esconde suas reservas sobre ela.

A questão se torna ainda mais complexa quando consideramos que o SOCD pode ser implementado via software, mas isso geralmente resultaria em banimento em jogos competitivos. No entanto, quando implementado em hardware, como nos teclados da Razer e Wooting, a função tem recebido aprovação de grandes organizadores de torneios de CS.

Jeroen Langelaan, co-fundador e CTO da Wooting, destaca a inconsistência: “Se você fizer isso no computador, será banido. Mas se fizer no teclado, tudo bem. Isso, para nós, não faz muito sentido.”

A discussão se estende além do CS2. Em Overwatch 2, por exemplo, o SOCD pode ser usado para manipular hitboxes, tornando os jogadores alvos mais difíceis de acertar enquanto mantêm sua própria precisão de tiro.

O debate levanta questões importantes sobre a evolução tecnológica no gaming competitivo. Onde traçamos a linha entre inovação legítima e vantagem injusta? Alguns argumentam que o SOCD é apenas mais um avanço tecnológico, semelhante a mouses com sensores melhores ou monitores com taxas de atualização mais altas. Outros veem isso como uma forma de “doping digital”, que remove a habilidade e a prática do jogo.

Uma solução proposta é a implementação do SOCD diretamente nos jogos, tornando-o acessível a todos os jogadores, independentemente do hardware. Isso eliminaria a percepção de “pay-to-win” associada a teclados específicos. No entanto, isso também poderia alienar jogadores que investiram tempo e esforço para dominar técnicas complexas manualmente.

O caso do SOCD nos lembra de um precedente interessante: quando a Wooting lançou uma ferramenta de “Double Movement” para Fortnite, a Epic Games respondeu adicionando a função diretamente ao jogo, tornando ferramentas de terceiros irrelevantes.

A controvérsia do SOCD destaca a constante evolução da interface entre hardware e software no gaming competitivo. À medida que a tecnologia avança, a linha entre vantagem legítima e trapaça se torna cada vez mais tênue. Isso levanta questões importantes para desenvolvedores, organizadores de torneios e jogadores:

  1. Como podemos garantir um campo de jogo nivelado quando o hardware pode oferecer vantagens significativas?
  2. Qual é o papel da habilidade e prática em um ambiente onde a tecnologia pode simplificar técnicas complexas?
  3. Como os desenvolvedores de jogos devem responder a essas inovações de hardware?

Enquanto o debate continua, uma coisa é certa: a indústria de eSports terá que enfrentar essas questões de frente para manter a integridade e a competitividade dos jogos. O caso do SOCD pode muito bem ser um ponto de virada na forma como entendemos e regulamos a tecnologia no gaming competitivo.

À medida que a tecnologia continua a evoluir, é provável que vejamos mais casos semelhantes no futuro. A comunidade gaming, os desenvolvedores e os organizadores de torneios terão que trabalhar juntos para estabelecer diretrizes claras sobre o que constitui uma vantagem justa em um mundo onde a linha entre habilidade humana e assistência tecnológica está cada vez mais borrada.

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