Bugaboo Pocket: o estranho consolo de cuidar de insetos digitais
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Entre pixels e patas minúsculas, existe um lugar onde insetos usam chapéus e o tédio é embalado em minigames sutis. Bugaboo Pocket surge como uma dessas experiências que parecem saídas de uma vitrine de brinquedos esquecidos dos anos 2000, onde Tamagotchis e bichinhos de gel conviviam numa estética meio melancólica, meio nostálgica. Aqui, o cuidado não é só rotina; é também estranhamento. E isso é um elogio.
Uma casca dourada e um vínculo peculiar
Tudo começa com um ovo — dourado, quase cerimonial. Não há pressa, mas há expectativa. Quando ele finalmente se abre, revela-se um isópode do tipo “rubber ducky”, um bicho que parece saído de um livro infantil com toque entomológico. É o início de uma jornada silenciosa, marcada por limpeza de sujeiras, mudanças de decoração e, claro, a escolha de chapéus.
Bugaboo Pocket não finge ser mais do que é, e talvez por isso funcione. A proposta é simples: criar vínculos. O jogador interage, cuida, alimenta, e a criatura responde — em afeto, em personalidade, em pequenas reações registradas num diário. Mas há algo de estranho nesse afeto mediado por pixels. Não é real, mas dói quando termina.
Minigames como respiros
Se há algo que impede Bugaboo de afundar no mar da inércia, são os minigames. Cada espécie carrega três jogos próprios. Uns remetem ao pachinko, outros ao quebra-cabeça, outros ainda ao red light green light. Mas é com a mantis-orquídea que o jogo se solta em cor e ritmo, oferecendo um minigame à la Fruit Ninja, com golpes cortantes das próprias pernas dianteiras do inseto.
Esses momentos de ação servem como interrupções bem-vindas na contemplação constante. Afinal, o ciclo de vida dos bugs é lento, quase estático. O tempo se estica, e, paradoxalmente, isso cria espaço para vínculo. Mas também para questionamento.
A sombra da finitude
Os insetos crescem. E morrem. Há formas de lidar com isso: taxidermia, frascos com espécimes úmidos, sepultamentos simbólicos. Há quem passe rápido por essa fase, há quem observe a parede cheia de corpos pixelados e se pergunte onde errou. Bugaboo Pocket não oferece respostas, apenas o ciclo: nasce, cuida, interage, perde, repete.
Não há punições reais, nem mecânicas severas. Tudo está calibrado para ser seguro, suave, quase infantil. Mas ali está o paradoxo: mesmo sem consequências tangíveis, a perda pesa. É possível se apegar a um inseto virtual que mal se move? É. E esse talvez seja o maior triunfo do jogo: induzir apego em meio à simplicidade.
Um museu de memórias improváveis
Ao final de uma jornada com dez, vinte, trinta pequenos companheiros, o que sobra é um museu esquisito. Quadros com corpos digitais. Memórias salvas em diários. Chapéus abandonados. Não há muito o que fazer senão começar de novo. E se a repetição aqui é um gesto automático, ela também é um ritual. Em cada novo nascimento, um laço. Em cada nova morte, um vazio discreto.
Bugaboo Pocket talvez não mude o mundo, mas ensina algo sobre presença, sobre rotina e sobre o estranho consolo de cuidar — mesmo que o cuidado seja com algo que, de início, parecia impossível de amar.
Num tempo de urgências, há algo de subversivo em parar para cuidar de um inseto digital. Ainda que ele vá morrer no final.
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Eu sou o Rafael, também conhecido como Peleh. Já vi de tudo no mundo dos games, por isso sou eu quem cuida das notícias e análises de games aqui no Steamaníacos!
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