Review de Old Skies: quando o tempo volta, mas as dores ficam

Old Skies

Em um futuro não tão distante, há quem pague caro para corrigir os erros do passado. Mas em Old Skies, não é o cliente que importa: é quem conduz. Fia Quinn, agente da ChronoZen em uma Nova York dos anos 2060, vive uma rotina tão instável quanto previsível. Enquanto os ricos ajustam suas histórias, ela permanece cravada no presente mutável, imutável em si. Trancada fora do próprio passado, Fia é a sombra que atravessa as décadas — e a testemunha solitária de todas as mudanças.

Entre passeios temporais e dilemas existenciais

À primeira vista, Old Skies é um clássico adventure point-and-click. O que se descobre com rapidez, porém, é que o jogo não quer apenas divertir com puzzles inteligentes ou homenagear a era dourada dos jogos de Dave Gilbert. Ele quer ferir — e com precisão.

As missões começam como pequenos contos temporais: clientes buscando redenção, segredos enterrados, mudanças desejadas. Cada viagem é uma janela para o humano, mas também uma reflexão sobre a cidade que muda a cada salto temporal. Não se trata apenas do que foi alterado, mas de quem se tornou irreconhecível.

Puzzles que fazem sentido

Na contramão de tantos adventures, Old Skies respeita a inteligência do jogador. Nada de combinações ilógicas ou soluções absurdas: cada enigma é construído com base em dedução, memória e observação. Saltar entre décadas não é apenas uma mecânica: é uma forma de experimentar causalidade em tempo real. O jogo exige pensar em duas épocas ao mesmo tempo, com soluções criativas que surgem naturalmente.

Mesmo quando a missão é salvar a própria vida com um remédio que ainda não existe, a lógica nunca é sacrificada. E isso torna cada resolução um pequeno triunfo.

Arte que salta, atuações que ferem

A arte de Ben Chandler deixa para trás os pixels e abraça uma estética de quadrinhos: linhas espessas, cores vibrantes, traços vivos. A mudança poderia soar arriscada, mas funciona com convicção. Os personagens saltam da tela. A trilha sonora de Thomas Regin, por sua vez, costura cada cena com jazz e blues melancólicos, criando um pano de fundo sonoro para a dor que se acumula.

Nada, porém, prepara para o peso das atuações. Sarah Beaumont dá voz a Fia com uma contenção desconcertante. Em cada “Focus on the job”, ouve-se a tentativa de seguir em frente, mesmo quando tudo dentro dela já desabou.

Um jogo sobre tempo, mas também sobre perda

Com o tempo, Old Skies abandona o formato de antologia. As histórias se entrelaçam, e Fia deixa de ser apenas observadora. O jogo ganha alma quando ela passa a desejar algo mais que o próprio cargo permite. E é exatamente quando deseja viver, que passa a perder ainda mais.

A beleza de Old Skies está no que não tenta consertar. Não é sobre impedir a dor, mas sobre aceitá-la como parte do percurso. Em meio a saltos, paradoxos e paradoxos emocionais, fica uma verdade simples: há coisas que nem o tempo pode devolver. E algumas que não deveriam ser devolvidas.

Old Skies não quer reinventar o adventure, e talvez por isso seja tão eficaz. Com escrita afiada, atuações potentes e uma compreensão rara sobre o que torna o tempo tão fascinante, Wadjet Eye entrega um dos jogos mais sensíveis do ano.

No fim, resta apenas a vontade de voltar. Mas como bem ensina Fia, nem toda viagem no tempo é cura. Às vezes, é apenas um espelho partido.