Review de Skin Deep: um dos stealth games mais inventivos dos últimos anos

Quando pensamos em jogos de stealth, geralmente imaginamos agentes sombrios, corporações sinistras e decisões pesadas. Mas Skin Deep, da Blendo Games, desconstrói tudo isso de maneira brilhante. Aqui, o foco está na improvisação e no humor — uma verdadeira celebração da zoeira dentro do gênero dos immersive sims.

No papel (e nos pés descalços) de Nina Pasadena, agente de uma corporação de seguros intergaláctica, o jogador é lançado em navios infestados de piratas para resgatar tripulações de gatinhos e restaurar a ordem. Mas esqueça armas de alta tecnologia e equipamentos de ponta: por “complicações no processo de descongelamento”, tudo o que você vai ter à disposição são itens comuns encontrados pelos ambientes.

O charme do jogo é exatamente esse: cada missão é um convite para explorar, rir e improvisar com o que estiver à mão. Um vaso pode virar bomba de espirro, um rádio quebrado vira isca elétrica, e um sapato perdido pode ser a diferença entre vida e morte.

Mecânicas de interação que incentivam a criatividade

Um dos grandes trunfos de Skin Deep é o Zoom Lens, uma lente de ampliação que permite ler qualquer texto ou rótulo no ambiente, de qualquer distância. Parece simples, mas essa ferramenta reduz drasticamente a necessidade de tutoriais, incentivando o jogador a aprender e experimentar organicamente.

O jogo transforma cada objeto em potencial ferramenta ou armadilha. Quebrar uma walkie-talkie contra a parede faz com que ela libere faíscas, o que pode ser usado para iniciar incêndios ou explosões. Jogar sabão no chão? Perfeito para derrubar um pirata desavisado. Cada item parece cuidadosamente pensado para ampliar as possibilidades de interação.

Essa filosofia de design é refrescante e lembra clássicos como Prey (2017), onde o famoso nerf crossbow se revelava muito mais útil do que parecia. Skin Deep captura esse espírito de descoberta e experimentação em praticamente todos os momentos.

Humor físico e caos inteligente

A física do jogo é um espetáculo à parte. Um simples acidente pode desencadear uma sequência de eventos hilária e catastrófica. Em uma missão, tentei pegar uma chave de um pirata chamado Franklin usando uma granada. O que aconteceu foi uma sequência de oito eventos simultâneos: vidros quebrando, uma chave perdida no espaço, o sistema de gravidade do navio entrando em colapso e um pirata sufocando. Tudo sem que eu tivesse planejado nada disso.

Esses momentos não são exceções, mas parte integral da experiência. Skin Deep é construído para recompensar a criatividade desastrosa dos jogadores. Cada falha vira uma história engraçada para contar, cada improviso vira uma vitória épica.

Combate, furtividade e escolhas inteligentes

Outro aspecto brilhante do design é como o jogo evita o caminho fácil de permitir que o jogador simplesmente elimine todos os inimigos. Os piratas são equipados com sistemas de regeneração de cabeças — ou seja, matar um inimigo só resolve o problema se você também der um jeito na cabeça dele.

Isso gera escolhas táticas: guardar a cabeça ocupa espaço no inventário, mas pode ser a única forma de evitar que o inimigo volte. A mecânica incentiva o jogador a usar o ambiente, encontrar formas alternativas de neutralizar ameaças e abrir novos caminhos.

O sistema de percepção dos inimigos também é extremamente bem calibrado. Eles são inteligentes o suficiente para punir erros graves, mas deixam espaço para manobras ousadas e criativas.

Variedade limitada no conteúdo, mas não na diversão

Se existe uma crítica a ser feita a Skin Deep, ela está na repetição de objetivos. Em 11 horas de campanha, a missão básica — resgatar gatos e escapar — nunca muda. Não existem missões temáticas como “o assalto ao cassino” ou “o baile de gala”, que ajudariam a diferenciar os mapas de forma mais marcante.

Isso acaba dando uma sensação de déjà vu depois de muitas horas, mesmo com a genialidade do design dos níveis. As missões são excelentes, mas falta aquela variação temática que cria momentos memoráveis.

O enredo de Nina também poderia ser mais desenvolvido. A história principal, focada em encontrar o líder da gangue dos Numb Bunch, é divertida e contada no estilo visual dinâmico característico da Blendo Games, mas não impacta diretamente o gameplay da maioria das missões.

Potencial de expansão gigantesco

Apesar dessas limitações, o mundo de Skin Deep é tão rico em possibilidades que é impossível não querer mais. A boa notícia é que o jogo já vem com suporte a mods — o que significa que novas fases criadas pela comunidade poderão prolongar a vida útil dessa pérola.

A ideia de “comandos de seguros” lutando contra piratas espaciais é divertida demais para parar em um jogo só. A física caótica, o humor afiado e a criatividade infinita fazem de Skin Deep uma plataforma perfeita para futuras expansões, DLCs ou projetos de fãs.

Conclusão: Uma obra-prima do improviso

Skin Deep é uma carta de amor aos jogadores que amam improvisar, experimentar e transformar acidentes em vitórias gloriosas. Em vez de oferecer um playground sombrio de cyberpunks e agentes secretos, ele entrega uma arena onde qualquer objeto é uma arma, qualquer erro pode virar uma piada, e cada missão é uma história hilária pronta para acontecer.

Mesmo com a leve repetição nas missões e a história um pouco tímida, o que Skin Deep faz, faz com maestria: proporciona uma das experiências de stealth mais criativas, imprevisíveis e divertidas da última década.

Se você é fã de immersive sims como Deus Ex, Prey ou Dishonored, mas sente falta de uma boa dose de humor e imprevisibilidade nesses universos, Skin Deep é a resposta perfeita. É raro ver um jogo que respeita tanto a inteligência e a criatividade do jogador, e mais raro ainda encontrar um que faz isso com tanto charme.

Blendo Games acertou em cheio: Skin Deep é, sem dúvida, um dos melhores stealth games do ano, e uma lembrança gloriosa de que o melhor dos jogos está em nos dar ferramentas para criar nossos próprios desastres épicos.

Prepare-se para tropeçar em sabão, espirrar poeira nos piratas e, acima de tudo, rir muito. Skin Deep é um convite para voltar a ser aquele jogador curioso e bagunceiro que todo imersive sim deveria valorizar.

Comente!

Compartilhar!

Mais Opções
Por Rafael "Peleh"

Eu sou o Rafael, também conhecido como Peleh. Já vi de tudo no mundo dos games, por isso sou eu quem cuida das notícias e análises de games aqui no Steamaníacos!