Review de The Last of Us Part II no PC: remaster potente, mas ainda imperfeito
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The Last of Us Part II Remastered finalmente desembarca no PC — uma chegada que carrega mais do que texturas melhoradas ou opções gráficas refinadas. Carrega memórias, controvérsias, e a expectativa de um público que viu o primeiro jogo redefinir o que se esperava de narrativa nos videogames. A sequência, lançada originalmente em 2020 para PlayStation 4, provocou reações intensas — amor, raiva, desconforto, fascínio. Agora, em sua versão mais completa, o título volta a gerar debate, desta vez também em torno de sua performance técnica no PC.
O que deveria ser o ápice técnico da Naughty Dog se mostra uma dualidade incômoda: ao mesmo tempo em que oferece um espetáculo visual e um combate refinado, carrega uma execução que, mesmo com melhorias, ainda tropeça nos próprios pés.
Visual e performance: evolução com ressalvas
Rodando em um RTX 3060 Ti com um i7-12700F e 16 GB de RAM, o jogo mostra desde o início que é ambicioso. As paisagens cobertas de neve da introdução impressionam, com partículas detalhadas e iluminação suave que evocam o frio que Ellie sente. No entanto, essa fluidez começa a ruir assim que os cenários se tornam mais densos. As áreas urbanas tomadas pela natureza, que são a alma estética da série, causam travamentos momentâneos, texturas que não carregam corretamente e quedas de framerate perceptíveis.

Mesmo com as configurações ajustadas para médio em 1080p, o jogo não entrega estabilidade. Não é o desastre do port do primeiro jogo — que chegou ao PC como uma caricatura de si mesmo —, mas também não é o salto de qualidade que a remasterização prometia. O patch do primeiro dia existe, mas é claro que um único update não é suficiente para resolver as nuances técnicas de um título dessa escala.
É uma pena, porque a base gráfica é formidável. O suporte a ultrawide, HDR e os novos ajustes de acessibilidade — incluindo o criativo sistema de vibrações que sincroniza o DualSense com os diálogos — mostram o cuidado da equipe em adaptar a experiência para diferentes públicos. Mas mesmo esses méritos se veem ofuscados por uma performance inconsistente.
No Return: o novo modo que realmente brilha
Entre as adições mais celebradas da versão remasterizada, está o modo No Return. Trata-se de uma experiência roguelike onde o jogador enfrenta sequências de combates aleatórios, adquirindo recursos e melhorando suas chances conforme progride. Cada sessão dura menos de uma hora, mas traz variedade e personalização suficientes para justificar múltiplas tentativas.

Diferente da campanha tradicional, No Return solta as amarras da narrativa e foca apenas no cerne mecânico: o combate tenso, a furtividade criativa, a escassez de recursos. E nesse formato, o jogo brilha. É possível escolher entre vários personagens, cada um com perks distintos, e moldar o desafio com diferentes tipos de missão, desde sobrevivência até eliminação cronometrada.
É curioso perceber que o maior trunfo da remasterização está fora da história principal. Enquanto a campanha carrega o peso de decisões narrativas divisivas, No Return é leve, acessível, direto — uma celebração das mecânicas que fazem The Last of Us ser tão agradável de jogar, independentemente de se gostar ou não de sua trama.
Narrativa: o espetáculo e o ruído
The Last of Us Part II não é sutil. Nunca foi. Sua proposta é visceral, tanto na forma como na narrativa. Enquanto o primeiro jogo construiu uma história de paternidade, humanidade e sacrifício, a sequência é uma espiral de ódio, luto e trauma. Ellie e Abby não são heroínas nem vilãs — são vítimas e algozes de um mundo onde ninguém sai ileso.

A atuação é impecável. Cada linha, cada expressão facial, cada silêncio entre diálogos é carregado de intenção. A trilha sonora de Gustavo Santaolalla continua sendo uma âncora emocional poderosa. A direção de arte é cinematográfica em todos os sentidos. Mas é no roteiro que surgem os dilemas mais discutíveis.
A história tenta argumentar que “violência gera mais violência”, mas o faz com uma insistência quase cínica. A dualidade entre as facções WLF e Seraphitas ecoa paralelos geopolíticos desconfortáveis — com inspirações assumidas em conflitos reais, como o entre Israel e Palestina — mas o jogo se abstém de aprofundar as dinâmicas de poder, optando por tratar ambos os lados com uma falsa equivalência.
Mais problemático ainda é como o jogo encara a vingança: não como um dilema ético, mas como uma inevitabilidade. Repetidas vezes, os personagens são colocados em situações onde matar parece a única saída, e só após muito sangue, o jogo nos oferece a conclusão simplista de que “matar é ruim”. É uma filosofia rasa para um jogo que se vende como denso e provocador.
Jogabilidade: onde tudo se conecta
Apesar dos ruídos da narrativa, é no momento a momento que The Last of Us Part II mostra sua força. A exploração, embora em trilhos, oferece momentos genuinamente satisfatórios. Vasculhar casas abandonadas, encontrar diários com pistas, descobrir atalhos — tudo contribui para a construção daquele mundo.

Os combates são brutais, mas recompensadores. A física dos inimigos, as animações únicas de execução, a interação com o ambiente… tudo cria um senso de urgência e peso. Cada tiro perdido dói, cada garrafa lançada estrategicamente causa alívio. O design sonoro, especialmente durante seções de furtividade, é exemplar — aumentando a tensão com camadas de áudio que reagem ao que está acontecendo.
Há ainda set pieces memoráveis. Uma em especial — uma fuga colina abaixo com zumbis destruindo prédios ao redor — poderia estar em qualquer blockbuster de ação. É nesse equilíbrio entre espetáculo e controle que o jogo atinge seu ápice.
Conclusão: um pacote rico, mas não coeso
The Last of Us Part II Remastered é um paradoxo. Ao mesmo tempo em que é tecnicamente ambicioso, narrativamente ousado e mecanicamente refinado, também é tropeçante, narrativamente excessivo e emocionalmente esgotante. O port para PC não é um desastre, mas também não é a celebração definitiva que muitos esperavam.
Para quem nunca jogou, é uma experiência que vale ser vivida — com olhos abertos para seus defeitos e coração preparado para seus impactos. Para veteranos, o modo No Return é o maior incentivo à revisita. E para todos, fica a lição: nem todo jogo precisa ser perfeito para ser marcante — mas quando se pretende ser uma obra-prima, os erros ficam ainda mais visíveis.
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Eu sou o Rafael, também conhecido como Peleh. Já vi de tudo no mundo dos games, por isso sou eu quem cuida das notícias e análises de games aqui no Steamaníacos!