Análise: Yars Rising redefine clássico do Atari 2600

Yars Rising

No universo dos videogames, revisitar clássicos pode ser uma faca de dois gumes. Por um lado, temos a chance de reviver memórias queridas; por outro, corremos o risco de estragar essas lembranças com uma execução equivocada. Yars Rising, desenvolvido pela WayForward e publicado pela Atari, se propõe a reimaginar o icônico Yars’ Revenge do Atari 2600. Mas será que esta nova versão consegue capturar a essência do original enquanto oferece uma experiência atualizada para os jogadores modernos?

Yars Rising transforma o conceito de tiro espacial do jogo original em uma aventura metroidvania contemporânea. Nesta nova iteração, os jogadores assumem o controle de Emi Kimura, uma programadora de baixo escalão da empresa QoTech. A trama se desenrola quando Emi, seguindo instruções de rádio de seus amigos, tenta sabotar os servidores da empresa a pedido de um misterioso concorrente. Naturalmente, as coisas não saem conforme o planejado.

Após ser capturada pela segurança corporativa, Emi se vê obrigada a fugir por um labirinto de escritórios fortemente vigiados. Durante sua fuga, ela descobre os planos aterrorizantes da QoTech para a humanidade e sua própria conexão reprimida com os eventos descritos na história em quadrinhos que acompanhava o jogo de 1982. A jornada de Emi envolve se esgueirar por grades de laser, se esconder de guardas e enfrentar robôs sentinela e Roombas mortais.

Um dos pontos altos de Yars Rising são as sequências de hacking, que funcionam como minigames inspirados no jogo original. Esses desafios recriam elementos icônicos como o sprite do Yar, o imponente Qotile e o poderoso canhão Zorlon. A WayForward demonstrou criatividade ao repaginar esses elementos clássicos, oferecendo mais de cem variações que mantêm a intensidade do original enquanto adicionam novos toques. Além disso, referências a outros clássicos da era Atari, como Centipede, Missile Command e até mesmo Pong, aparecem em encontros memoráveis.

Infelizmente, o cerne da jogabilidade de Yars Rising não consegue manter o mesmo nível de empolgação. Os ambientes corporativos são repetitivos e sem graça, com pouca diferenciação entre as áreas. Os personagens carecem de profundidade, recaindo em estereótipos como a melhor amiga mandona e o nerd levemente assustador. O humor que funcionou bem na série Shantae da WayForward perde muito de seu charme aqui, resultando em diálogos que mais irritam do que divertem.

A ação principal do jogo também sofre com a falta de variedade e desafio. Os inimigos seguem padrões previsíveis, e a dificuldade raramente exige que os jogadores pensem fora da caixa ou improvisem estratégias. A abundância de itens de cura torna a maioria dos confrontos triviais, eliminando a tensão que deveria estar presente em uma fuga desesperada.

Problemas técnicos como tempos de carregamento frequentes e um mapa confuso prejudicam ainda mais a experiência. A escassez ocasional de recursos parece servir apenas para forçar o backtracking, uma tarefa particularmente tediosa considerando a falta de variedade visual nos ambientes.

Embora as sequências de hacking continuem oferecendo momentos de diversão ao longo do jogo, Yars Rising não consegue integrá-las de forma significativa à experiência principal. A ausência de elementos como tabelas de classificação para comparar tempos de conclusão com amigos representa uma oportunidade perdida para aumentar o valor de replay.

No final, Yars Rising se encontra em uma posição desconfortável no gênero metroidvania. Sem os movimentos fluidos de Guacamelee!, a variedade de poderes das últimas entradas de Castlevania ou o impacto visual de Blasphemous, o jogo luta para encontrar sua identidade única. Ironicamente, são os minigames inspirados no clássico de 40 anos atrás que se destacam como a parte mais fresca da experiência, enquanto o metroidvania que serve como prato principal acaba deixando um gosto de déjà vu.

Para os fãs nostálgicos de Yars’ Revenge, Yars Rising pode oferecer alguns momentos de diversão, especialmente nos minigames de hacking. No entanto, para aqueles em busca de uma experiência metroidvania robusta e inovadora, o jogo pode deixar a desejar. Talvez, se a WayForward tivesse se concentrado mais em expandir os elementos que fizeram o original brilhar, em vez de tentar encaixá-los em um molde genérico, o resultado final poderia ter sido mais satisfatório.

Yars Rising serve como um lembrete de que, ao revisitar clássicos, é crucial encontrar um equilíbrio entre homenagem e inovação. Enquanto o jogo faz um esforço admirável para modernizar um título amado, acaba tropeçando em sua própria ambição. Para os curiosos, pode valer a pena experimentar Yars Rising como uma curiosidade nostálgica, mas aqueles que buscam o próximo grande sucesso no gênero metroidvania provavelmente encontrarão opções mais gratificantes em outros lugares.

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