Review de Disaster Blaster: Destruição Estratégica com Cartas

À primeira vista, Disaster Blaster parece mais uma daquelas explosões de nostalgia retrô sem muito a dizer. Mas basta alguns minutos e algumas combinações de cartas para perceber que há uma matemática cruel e deliciosamente viciante por trás dessa fachada colorida e barulhenta. O jogo parece simples, mas engana — e engana bem. É o tipo de experiência que te fisga não pelo controle direto, mas pelo prazer de ver uma sequência cuidadosamente construída desencadear o caos absoluto.

Seu personagem corre e atira sozinho, o que parece estranho num primeiro momento. Afinal, estamos acostumados a querer controlar tudo. Aqui, no entanto, você está nos bastidores da destruição, manipulando variáveis, ajustando efeitos e, com o tempo, aprendendo a arte de construir uma arma perfeita. A jogabilidade gira em torno de decisões quase científicas, um laboratório de experimentos explosivos disfarçado de roguelite acelerado.

Um jogo de cartas com o coração de um acelerador de partículas

A escolha de cartas é o coração pulsante do jogo. Cada carta inserida no seu “blaster” modifica diretamente a natureza dos disparos: dano bruto, velocidade, elementos adicionais, efeitos de área e, o mais importante, sinergias. A mágica acontece quando essas cartas começam a se combinar de formas inesperadas, gerando uma reação em cadeia de multiplicadores, repetições e efeitos especiais que transformam seu personagem em uma força imparável.

A sensação de evolução é visceral. Começa com tiros modestos que mal arranham os inimigos. Com o tempo, com as cartas certas, você passa a disparar rajadas de energia que derretem quarteirões inteiros. E o jogo sabe recompensar esse progresso: quando o dano atinge números absurdos, o próprio HUD abandona a pretensão de precisão e simplesmente exibe “REALLY??” como forma de dizer: sim, você quebrou o sistema. E que delícia é quebrar esse sistema.

Fragilidade sob a superfície destrutiva

Por mais poderosa que sua arma possa parecer, Disaster Blaster nunca deixa você se sentir invencível por muito tempo. Há uma fragilidade que paira sobre o caos. Quando atingido, seu personagem pode perder uma das cartas da sequência — e nem sempre será uma carta qualquer. Às vezes, é o multiplicador que sustentava toda a cadeia de dano. Às vezes, é o elemento que permitia que os tiros perfurassem inimigos múltiplos. A perda é sentida. E essa imprevisibilidade cria tensão verdadeira.

Além disso, os inimigos exigem adaptações constantes. Um arsenal construído para lidar com enxames pode falhar miseravelmente contra inimigos solitários e resistentes. Essa necessidade de adaptação, aliada à aleatoriedade dos upgrades, transforma cada partida em um quebra-cabeça novo. Nada garante que a combinação perfeita de antes se repetirá. Nada garante que você terá sequer a chance de repetir a fórmula.

Um universo hostil e um sistema cego de progressão

Ao final de cada corrida, seus pontos são convertidos em moeda para desbloqueios. Novos planetas, personagens e cartas são adquiridos com essa pontuação, mas aqui reside uma das decisões mais controversas do jogo: tudo é desbloqueado às cegas. Você não sabe que personagem está comprando, nem o que uma nova carta fará até que ela surja durante uma corrida. Isso pode ser frustrante para quem busca planejamento, mas ao mesmo tempo, reforça a natureza caótica do universo que o jogo propõe.

É como se o jogo estivesse constantemente te dizendo: “Você quer controle? Azar o seu. Aqui, o caos manda.” E isso se estende à própria estética. Os gráficos remetem a uma era quase esquecida dos games, lembrando algo entre o Commodore 64 e os fliperamas mais obscuros. Nem sempre funciona. A apresentação é crua e, em certos momentos, feia. E a trilha sonora? Um suplício auditivo que mais parece um pesadelo de circo em loop infinito. É, provavelmente, o primeiro jogo que me fez correr desesperadamente para o menu de configurações só para silenciar tudo.

No limiar entre o absurdo e o engenhoso

Apesar dos tropeços técnicos, Disaster Blaster tem alma. Tem personalidade. E tem, acima de tudo, uma estrutura de jogo que recompensa inteligência, ousadia e uma pitada de masoquismo matemático. Cada partida é uma dança entre lógica e sorte, uma tentativa de decifrar como torcer ainda mais as regras para arrancar aquele número absurdo de dano do nada. Ele é menos sobre reflexos e mais sobre visão estratégica. Um jogo que entrega adrenalina por meio da contemplação, e não da ação direta.

Para quem gosta de roguelites que desafiam as convenções, Disaster Blaster é uma surpresa. Um jogo que não se contenta em ser mais um clone retrô com mecânicas repetitivas. Ele quer que você pense. Que você erre. Que você reconstrua. E, quando acertar, que sinta o impacto — tanto no número que explode na tela quanto na satisfação de ter decifrado mais uma vez o código da destruição

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Por Rafael "Peleh"

Eu sou o Rafael, também conhecido como Peleh. Já vi de tudo no mundo dos games, por isso sou eu quem cuida das notícias e análises de games aqui no Steamaníacos!

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