Roman Triumph: quando o city builder de sobrevivência encontra o mito romano

Roman Triumph: Survival City Builder
Ano: 2025
Gênero: Jogos de Estratégia em Tempo Real
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★
Roman Triumph

Às margens do Império, uma nova cidade nasce sob pressão — fome, frio, invasões bárbaras e… monstros de lenda. Roman Triumph: Survival City Builder une a rotina metódica dos city builders ao tempero imprevisível de um survival com deuses e criaturas míticas. O resultado? Um ciclo de construção, gestão e defesa que vicia, testa planejamento e recompensa cada decisão bem pensada.

O coração do jogo pulsa no mesmo compasso dos grandes do gênero: plantar, colher, estocar, transformar. De início, o jogador ergue cabanas, organiza lenha e pedra, abre espaço para hortas e pastagens. Logo depois, a cidade pede complexidade: cadeia de produção, oficinas, templos, banhos, estruturas sociais. O avanço por pesquisa libera mais de 80 construções romanas, o que garante variedade de soluções e convida a experimentar caminhos diferentes a cada run — um pouco mais de comércio aqui, um foco maior em religião ali, uma muralha mais espessa acolá. Esse “vai e vem” de escolhas abre margem para especializações interessantes e dá personalidade a cada assentamento.

O que separa Roman Triumph do pacote é o triângulo tenso entre cidade, inimigos e divindades. As hordas ao norte crescem em força e frequência; não é só um combate aleatório que aparece como punição de tempo em tempo, mas uma camada estratégica que precisa ser antecipada com muros, torres, balistas e posicionamento do exército. Ao mesmo tempo, o jogo ainda cutuca o jogador com feras míticas — Hidra, Minotauro, Cérbero — que cobram um preço por expandir território. A defesa, portanto, não é adereço: é parte essencial do planejamento urbano.

A outra ponta do triângulo são os deuses. Construir templos e respeitar regras divinas não é cosmético; mexe na sobrevivência. Quebra voto, e pragas estouram, colheitas murcham, raios varrem estruturas; cultue com critério, e bênçãos empurram a economia para frente ou aliviam a pressão militar. Na prática, isso transforma a religião num sistema de risco-recompensa: você até pode ignorar por um tempo, mas a fatura chega — e costuma ser cara.

O combate fica num meio-termo saboroso: um pé no tower defense, outro num RTS enxuto. Não espere microgerenciamento profundo de unidades, mas sim leitura de terreno, choke points, sinergia de torres e armas de cerco e, por fim, a cereja do bolo: legiões que partem para retomar a iniciativa. Funciona porque conversa com o resto da cidade; investir cedo em defesa cobra seu preço na produção, mas dormir no ponto cobra mais caro lá na frente. O jogo é, no fundo, uma dança de gargalos: quando o trigo sobra, falta ferro; quando a muralha segura, a felicidade despenca; quando os deuses sorriem, o estoque de oferendas zera. E é nessa ginástica que Roman Triumph brilha.

No ritmo, a curva de aprendizado é honesta. As primeiras horas ensinam o básico com clareza, e a dificuldade escala na medida — ataques mais duros, eventos mais chatos, exigências divinas mais rígidas. A boa notícia é que a geração procedural das paisagens mantém o frescor: mapas com rios traiçoeiros, penínsulas tentadoras e florestas que escondem bicho grande forçam adaptações constantes. A má é que, por vezes, o improviso pesa: um início com caça escassa somado a invasões rápidas pode punir até veterano distraído. Faz parte do “survival” prometido; quem curte sarrafo vai sorrir, quem prefere passeio no parque talvez estranhe.

Em termos de sensação, a fantasia romana está lá — e não apenas no skin. As construções evocam aquela estética “imperial funcional”, os nomes de armas e tropas reforçam a fantasia histórica e o papel civilizador da cidade em território hostil é bem traduzido em sistema. Além disso, há pequenos toques que amarram o conjunto: entretenimento e ordem pública pressionam sua atenção, a saúde evita que a economia entre em espiral por causa de doença, e o comércio serve de válvula de escape quando o mapa insiste em negar um recurso-chave. O pacote de qualidade-de-vida é competente (salvo um ou outro texto pequeno demais no portátil, comento isso mais adiante), e a localização em português do Brasil ajuda muito a deixar tudo palatável desde o começo.

Falando em paladar, a receita audiovisual é sólida. A direção de arte privilegia legibilidade e clima fronteiriço; o bestiário mítico aparece em momentos que marcam a memória; e o “barulho” das máquinas e da vida urbana dá aquela cola sensorial gostosa de acompanhar em fast-forward. Não espere um show técnico de ponta — o foco aqui é sistema —, mas o jogo entrega consistência visual suficiente para sustentar imersão por muitas horas.

Do lado das polêmicas modernas, a equipe é transparente: há uso limitado de imagens geradas por IA em alguns eventos de interface (coisas como pop-ups de roubo ou praga), enquanto o restante da arte principal foi feito à mão. Curte esse debate? Dá para seguir jogando com a consciência informada e decidir se isso pesa na sua balança pessoal.

E a performance? Temos dois pontos. Primeiro, durante o Acesso Antecipado apareceram relatos de travamentos e congeladas pontuais, com o desenvolvedor dando orientação temporária e dizendo estar trabalhando em correções. Segundo, no lançamento 1.0 o jogo chega mais redondo, mas vale aquele conselho de sempre: se você joga em PC de entrada, diminua sombras, densidade de vegetação e distância de visão quando o mapa começar a ficar muito populoso. Isso costuma “desafogar” qualquer city builder com simulação de agentes.

Sobre portabilidade, a situação no Steam Deck/SteamOS é “jogável com ressalvas”: o perfil padrão pede uso ocasional de touchscreen/teclado virtual, alguns ícones de controle podem aparecer errados, parte do texto fica pequena e a resolução nativa do Deck não é totalmente atendida. Na prática, roda e diverte, mas requer um tiquinho de paciência (ou um layout de comunidade) para ficar redondo. Para quem curte sofá e gestão, ainda assim vale o teste — especialmente porque a configuração gráfica padrão se comporta bem.

Em conteúdo, Roman Triumph chega parrudo para a proposta. Não é um city builder “sandbox tranquilo”; é um survival city builder. O jogo entende esse sobrenome e o honra com tensão crescente, variedade de ameaças e um meta-jogo que instiga: “Será que agora eu empurro a muralha, ou fecho um templo novo e seguro a bronca divina?” Esse dilema, repetido em diferentes escalas, sustenta o loop por dezenas de horas e dá vontade de recomeçar para testar linhas de desenvolvimento novas. A presença de conquistas e nuvem também ajuda quem gosta de objetivos extras e de jogar em mais de uma máquina.

Preço/benefício? Em lançamento, ele chega com preço honesto para o segmento e, inclusive, com desconto temporário. Há bundles interessantes com outros city builders focados em sobrevivência; se a sua prateleira mental inclui nomes como Pioneers of Pagonia, Going Medieval ou Diplomacy is Not an Option, o combo faz sentido — e Roman Triumph encontra bem seu lugar nessa prateleira: menos “zen”, mais “cerco”.

No geral, Roman Triumph acerta na costura entre planejamento urbano, pressão militar e capricho religioso. Quando engrena, vira aquele “só mais um inverno” que rouba a madrugada. Existem arestas — sobretudo na experiência portátil e em eventuais picos de performance em mapas muito densos —, mas nada que afaste quem busca exatamente o que ele promete: a delícia de ver uma cidade romana nascer, sofrer, crescer e sobreviver contra tudo e todos.

Veredito

Nota: 8/10. Vale a pena para quem curte city builders com tensão real de sobrevivência e gosta de mitologia no tempero. Se o seu foco é conforto total e zero pressão, pode achar duro; se você vibra com planejamento sob fogo inimigo, é um prato cheio — e bem servido.

Prós & Contras (rapidinho)

Prós

  • Loop de sobrevivência bem amarrado à gestão da cidade.
  • Sistema de deuses com impacto real no gameplay.
  • Variedade de construções e rotas de progressão estimula replays.
  • Localização em PT-BR e conquistas/cloud ajudam a “grudar”.

Contras

  • Texto pequeno no Steam Deck e necessidade de touchscreen/teclado virtual aqui e ali.
  • Possíveis engasgos em cenários muito grandes; exige ajustes em PCs modestos.
  • Pico de dificuldade pode punir começos ruins (survival de verdade).

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Por Leo "Blade"

Sou o Leo, geralmente jogo com o nick blade95. Sou apaixonado por jogos de FPS e amo montar PC Gamer! Aqui no Steamaníacos cuido de tudo sobre Hardware, review, preview, testes e novidades para o nosso mundo gamer!