Digimon Story: Time Stranger — Um mundo que cresce com você (e contra você)
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- atualizado às 11:27

A primeira noite me pegou na travessia entre Tóquio e Iliad. Entrei achando que ia maratonar nostalgia; saí calibrando time de debuffs como quem prepara recital. O jogo te dá aquela etapa inicial confortável — trio básico, missão “de manual”, um inimigo que aceita apanhar — só para, dois encontros depois, pedir que você pense como treinador e como detetive. O combate não é sobre números gordos o tempo todo; é sobre ordem: aplicar o status certo antes do golpe certo, construir turno futuro com escolhas que parecem humildes agora e, quando abre a janela, deixar o Digimon certo cantar. Quando isso engrena, os turnos ganham uma música gostosa de ouvir: você antecipa, encaixa e respira no compasso do seu time.
O sistema de personalidade mexeu comigo mais do que eu esperava. No começo, tratei como cor de rótulo; três horas depois, eu já estava “criando” caráter para encaixar rota de evolução com o papel que eu queria em campo. O jogo recompensa essa intenção. Um parceiro que você decide educar para controle vira metrônomo: garante turno, protege bobeada, segura a onda enquanto os outros brilham. Outro, moldado para explodir sem pudor, vira fogos de artifício na hora certa — e um desastre ambulante se você errar a deixa. A graça é que o time deixa de ser uma soma de cartas e vira um pequeno elenco que você conhece: quem aguenta, quem fraqueja, quem precisa entrar mais tarde para render mais. Quando a história empurra um chefe com truque maldito, é essa intimidade que salva.
A investigação fora de combate dá o tom de série que cresceu. Tóquio tem cheiro de correria urbana; Iliad parece sonho acordado. Entre uma pista e outra, voltei a sentir aquele prazer antigo de “dar uma volta só para ver quem está falando o quê” — e, quando um caso cruza com a vida do seu time, o jogo entrega pequenos nós na garganta que legitimam o grind. Não é texto que te segura pela mão; é texto que te puxa pela manga. E quando os mundos começam a sangrar um no outro, os reencontros e as pequenas revelações fazem peso real nos turnos seguintes: não é só dano que muda a luta; é motivação.
Na prática, é no ritmo que Time Stranger me ganhou. O mapa não te entope de encontros cegos; te convida a escolher quando brigar, quando seguir e quando parar para brincar de fazendeiro emocional. Sim, cuidei de base e “fazenda” pensando que seria chores, e vi que era propósito: afinar caráter, casar evoluções com o que eu estava jogando, colher um bônus no momento certo. A sensação de autoria é aditiva; cada vitória parece sua porque você empilhou escolhas pequenas, não porque tropeçou num combo quebrado. E quando a luta dá errado — e vai dar — a autópsia é limpa: faltou ordem, sobrou ganância.
Tecnicamente, o PC fez a parte dele. Travei a 60 e baixei um pouco o brilho para dar espaço às animações; a leitura de área e prioridade ficou cristalina, e o “peso” dos turnos apareceu. Mouse e teclado para interface, controle para sofá — alternar virou hábito. O áudio é metade do feitiço: efeitos que celebram impacto sem virar gritaria e uma trilha que sobe na hora certa para lembrar que, sim, você está salvando dois mundos, mas também ensinando um amigo a ser quem precisa ser.
Tropeços existem e são do tamanho certo. Há uma ou outra barriga de ritmo no meio do segundo ato, quando a história claramente te quer forte antes de abrir a próxima porta; respira, faz o que tem de fazer e segue. Em raros momentos, o jogo te tenta com “atalhos brilhantes” de evolução que soam incríveis, mas capotam a coesão do time — aprendi na dor a respeitar a conversa entre personalidades e papéis. E a economia de conteúdo extra quer sua atenção cedo; dá para ignorar sem culpa e voltar depois com o bolso (e o time) mais prontos.
Fechei os créditos com sorriso bobo e o velho impulso de recomeçar para “educar” dois parceiros de um jeito diferente. É Digimon do tamanho da memória e com o tato de 2025: menos barulho, mais intenção. Quando o turno encaixa e o seu trio canta junto, é pura catarse — e não tem nada de criança nisso. Tem método, afeto e aquela vontade besta de descer ao menu e escolher “Continuar” de novo.
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Sou o Leo, geralmente jogo com o nick blade95. Sou apaixonado por jogos de FPS e amo montar PC Gamer! Aqui no Steamaníacos cuido de tudo sobre Hardware, review, preview, testes e novidades para o nosso mundo gamer!