Little Rocket Lab — Engenharia com coração: quando planilha vira abraço
- Publicado em

A primeira hora foi puro improviso: martelo em punho, um gerador capenga e aquele terreno que parece grande até a primeira correia engasgar. Quando a eletricidade fechou o circuito e o primeiro produto caiu na caixa, entendi o truque — Little Rocket Lab é sobre botar ordem no mundo sem matar o encanto. O jogo me forçou a errar bonito: esteira invertida, água entupindo caldeirão, guindaste girando para o lado errado, e eu lá, rindo e jurando que “agora vai”. Foi. Uma linha de produção bem resolvida aqui puxa outra acolá, e de repente St. Ambroise respira diferente, com NPC vindo pedir ajuda, fofoca no mercadinho e uma nova peça que muda seu jeito de pensar o mapa. Quando reparei, eu não “cumpria missões”; eu estava consertando uma cidade.
O segredo mora no ritmo entre máquina e gente. Saía de um quebra-cabeça elétrico — cruzando cabos, calculando pressão da água, afinando temporizador — e caía numa conversa boba que me lembrava por que aquilo importava. A história não empaca seu fluxo; ela puxa de leve, com humor e afeto, e o objetivo grande (terminar o foguete da mãe) vira um norte prático para cada garra que você parafusa. É raro um jogo de automação me fazer levantar da bancada para dar uma volta pela rua só para ouvir quem está feliz com a luz voltando. Aqui, fiz isso o tempo todo.
Foi também onde parei de tratar tudo como fábrica e passei a tratar como instrumento musical. À medida que o catálogo abre, o mapa vira pauta: correias batem, braços se revezam, válvulas sussurram. Ajustei sensores para ligar bombas só quando precisava, usei água para sincronizar uma fornalha teimosa, inventei um braço bobo que gira peça e salva dois blocos de esteira — e aí entrou a trilha, de mansinho, me empurrando para o estado de foco bom. Quando a linha fecha e nada entope por dez minutos, a cabeça entra num transe macio. A melhor parte é que o jogo não castiga criatividade: se está meio torto mas funciona, vale. Se está lindo e não entrega, você sabe onde mexer.
No PC, o toque fino ajuda. Mouse para desenhar cabos e arrastar módulos é perfeito; controle funciona, mas a mão pediu ponteiro quando a coisa ficou densa. Travei a 60, baixei o pós-processamento para dar nitidez a canos e fios, e nunca mais briguei com leitura. Mesmo com máquinas cuspindo partículas e guindastes gigantes em cena, o desempenho segurou. Em telas ultrawide, ver a cidade pulsar inteira enquanto um braço lá no fundão resolve um gargalo que você jurou ter esquecido é quase terapêutico.
A parte social do design fecha a conta. Fazer um favor para um vizinho não é checklist — é desbloqueio de sentido. Um morador grato aparece depois com mãozinha, uma peça diferente, uma história curta que colore o trabalho seguinte. E a cidade responde às suas escolhas de layout; voltei a bairros para refatorar linha antiga porque um pedido novo pedia água onde antes eu só queimava carvão. A melhor missão que tive parecia trivial (“trazer X para Y”), mas no meio do caminho inventei um guindaste absurdo que virou orgulho besta. Exportei, reimportei, melhorei, e aquilo virou meu sotaque na campanha.
Tem tropeço? Tem, e é quase sempre seu. Escalar cedo demais sem pensar em energia cria apagões que parecem perseguição, quando na verdade são planilha com sono. Aceitar contrato grande antes de destravar a peça certa rende uma meia hora de Frankenstein. O jogo dá corda, e às vezes você se enforca com estilo. Mas a autópsia é limpa: dá para apontar com o dedo o cabo errado, a bomba mal dimensionada, o tanque que precisava vir antes do filtro. E nada te impede de largar tudo e construir um guindaste de cinco braços só porque a ideia é engraçada — e, quem sabe, eficiente.
Fechei a história com um foguete manso olhando o céu e aquela alegria besta de “eu fiz isso daqui funcionar”. Voltei ao save para arrumar uma linha que só eu sabia que estava feia, sentei de novo, mexi cinco minutos e fiquei mais uma hora. Little Rocket Lab entende que automação boa não é frieza — é cuidado. No fim do expediente, você não lembra do número; lembra de quem você ajudou e do barulhinho que as coisas fazem quando enfim se entendem.
Comente!

Sou o Leo, geralmente jogo com o nick blade95. Sou apaixonado por jogos de FPS e amo montar PC Gamer! Aqui no Steamaníacos cuido de tudo sobre Hardware, review, preview, testes e novidades para o nosso mundo gamer!