Mars First Logistics — Entregar no deserto vermelho é fácil; difícil é domar a sua própria invenção

Mars First Logistics
Ano: 2025
Gênero: Jogos de Física
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★
Mars First Logistics

A primeira entrega parecia inocente: uma caixinha simpática, meia dúzia de metros adiante, terreno liso. Quinze minutos depois, eu estava catando peças do meu “carrinho genial” espalhadas num vale. É esse o jogo: você monta, tenta, falha, ri, mexe mais um dente de engrenagem, volta — e, quando encaixa, a alegria é quase infantil. O editor no mouse é um carinho: arrebita mola, alonga braço, vira pivô dois graus, liga motor no eixo certo, testa. O barulho de parafuso assentando depois de uma gambiarra bem-sucedida virou meu ASMR particular. E aquilo que parecia uma missão boba vira demonstração de método: alavancagem, centro de massa, torque, aderência. Em Marte, fantasia só anda se a física deixar.

O mapa não tem pena. Cada “atalho” tenta te seduzir para um caminho que sua construção não aguenta — e é maravilhoso quando você se dá conta de que o problema não é pilotagem, é projeto. Rebati muito de cara com rodas grandes em areia fofa, até aceitar que lagartas e suspensão de curso longo salvavam mais entrega do que minha teimosia. Em outro job, tentei guindaste demais para carga de menos e passei a missão inteira lutando com um pêndulo idiota. A solução veio trocando por um braço curto com garras opostas e um contrapeso honesto atrás. Não foi “meta”: foi olhar para a peça, lembrar da última tombada e respeitar a estatística que o terreno me ensinou.

No co-op, a ilha de gênio vira canteiro de obra barulhento — do melhor jeito. Um amigo virou “engenheiro de chassi”, eu assumi o papel de “braços e ferramentas” e, de repente, estávamos discutindo como duas pessoas sensatas o ângulo ideal de um garfo feito de calotas. O rádio vira piada interna quando a carga quica, mas também cria aquela sincronia bonita de equipe: um puxa com reboque baixo, outro estabiliza com braço articulado e, quando a pedra finalmente descansa na carroceria, o grito sai sozinho. A sensação de autoria coletiva é rara: não é só completar entrega — é patentear, com amigos, um jeito novo de cruzar aquele penhasco.

A chegada do 1.0 afinou uma camada que eu não sabia que precisava: automação. Primeiro usei para firula (luz piscando quando quica, buzina em colisão, demonstração besta para a gangue). Depois, caiu a ficha. Um sensor de inclinação acionou suporte extensível em subida; um botão único mudou a geometria de transporte para “modo descarga” e resolveu a parte mais chata de um contrato de minério; um gatilho de velocidade limitou meus foguetes para não transformar o reboque em míssil terra-ar. É opcional — dá para zerar na marra —, mas quando abraça, vira cérebro emprestado para os dedos. E os novos brinquedos (gimbal, “abafador” de gravidade, peças extras) expandem o repertório sem trair a graça de acertar pelo ajuste fino.

Descobri também o prazer de socializar máquina. Exportei uma monstruosidade que apelidamos de “Garfilda” — um trator baixo com garra de quatro dedos e estabilizador — e passei a pegar projetos da oficina da comunidade para aprender truque alheio. É esquisito como um design bem bolado carrega assinatura: você reconhece quem gosta de simetria, quem confia demais em foguete, quem domina dobradiça como ninguém. Roubar com crédito é parte do currículo marciano.

Tecnicamente, o PC aguenta a festa se você arrumar a casa: travar a 60, segurar bloom e pós-processamento dão legibilidade em dunas cheias de partículas; quando exagerei no “efeito bonito”, a leitura do terreno sofria e a taxa beliscava nas multiarticulações. Com os cortes, virou manteiga. O “feel” no teclado/mouse é perfeito para pilotar fino e microcorrigir braço; no controle, dirigir no mundo aberto ficou mais relax — acabei revezando conforme o humor do dia. E a trilha — discreta, amiga — sabe entrar quando você finalmente acerta o balanço numa ponte que te humilhou por meia hora.

Nem tudo desliza. Há dias em que o RNG de contratos empilha peças que não conversam com a sua linha de pesquisa, e você sente que está batendo cabeça com uma ideia antiga. E, às vezes, a física cobra imposto de sucesso: um design que “resolve tudo” numa região vira âncora na seguinte, e engoli algum azedume antes de aceitar que o prazer aqui é recomeçar diferente, não empurrar a mesma solução colina abaixo. Também tive momentos em que foguetes “bem comportados” decidiram ser dramáticos na presença de carga leve — um tapa nos limites e no peso extra resolveu.

O que ficou, depois de horas, é a memória de microvitórias que só fazem sentido para quem estava lá: a primeira vez que cruzei uma crista lateralizando o chassi; o primeiro container que “carimbou” perfeito no berço sem amarrar; a ponte ridícula que a gente construiu só para provar que dava. Mars First Logistics tem o timing raro de fazer o cérebro estudar e a mão brincar. No fim de uma noite longa, olhei para aquele trator-aranha e reconheci mais do que metal: reconheci um ciclo de tentativa e erro que me fez melhor não só no jogo, mas no jeito de olhar problema.

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Por Leo "Blade"

Sou o Leo, geralmente jogo com o nick blade95. Sou apaixonado por jogos de FPS e amo montar PC Gamer! Aqui no Steamaníacos cuido de tudo sobre Hardware, review, preview, testes e novidades para o nosso mundo gamer!

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